sábado, 16 de setembro de 2017

O povo.

O povo é um caos, é mistura, são idiotas, gênios, canalhas, honrados, covardes e heróis, brancos, pretos, amarelos, pardos, sãos, malucos, honestos e bandidos, ricos, pobres, conservadores, revolucionários, todos juntos.
Jamais é uniforme. Jamais se veste com as mesmas cores. Portanto, desconfio de todo aquele que alega ter o povo nas mãos.
Lula, mais uma vez o fez, ontem, após chegar em Curitiba para seu segundo depoimento ao juiz Sérgio Moro acompanhado de uma espécie de milícia-lulista uniformizada de vermelho, com os mesmos capachos bancados com o nosso dinheiro.
No depoimento, se não fosse da patota, hoje seria manchete em todos os jornais por ter tratado a procuradora de forma desdenhosa -- machista, o diriam -- chamando-a de "querida".
Faz para provocar. Nada é à toa. É um espetáculo tenebroso de calculismo, bem como quando fala "Doutor Moro". A cada momento, incorpora um personagem: o humilhado pela autoridade do juiz, o perseguido pela "querida" procuradora, o responsável direto pela melhoria na vida dos brasileiros -- nós, mais de 200 milhões, não temos mérito algum nisto, apenas ele, o nosso salvador; o que ameaça e, segundos depois, finge ter compaixão por Palocci, o "homem que mais respeita o MPF" e, em seguida, os acusa de ter criado uma ficção que parece escrita por roteirista da Globo, o democrata que faz campanha irregular, e, acima de todos estes personagens unidos exclusivamente pela covardia e baixeza moral, o homem que não sabe de nada. Do aluguel mensal ao terreno de milhões. Nada.
Todos documentos comprometedores encontrados pela PF? 
"Ah, estavam num quarto que eu não abro há mais de 20 anos".
E não deu tempo de procurar, em um ano de acusação? 
"Tem que falar com o "adevogado" -- ele fala propositalmente errado quando incorpora o personagem de sujeito ignorante pressionado pela elite brasileira.
Lula, trocando para a faceta de psicólogo brilhante, afirmou que Palocci é médico, frio e calculista. Um "simulador". Foi este perfil quase de serial killer que, anos atrás, era escolhido pelo próprio para comandar o ministério da Fazenda. Hoje, tornou-se impuro.
No final, quando incorporava o personagem engajado com a causa da juventude negra, para ganhar pontos com algum grupelho de esquerda, passou pito em Moro pelo uso do verbo denegrir, que vem do latim denigrare e significa, literalmente, "tornar mais escuro". Moro, como todos, usa o verbo no contexto de "manchar a reputação".
Saindo do depoimento, foi à uma praça minúscula de Curitiba discursar para o "povo". Povo este pequeno, uniforme, uniformizado, remunerado e obediente. Incorporava ali o último papel do dia -- o seu preferido: o de salvador da pátria.
* João Ferreira, por e-mail.

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